terça-feira, 17 de agosto de 2010

AS RELAÇÕES SINTÁTICAS E OS CONECTIVOS COMO ELEMENTOS DE COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAIS NAS PROVAS DE CONCURSOS PÚBLICOS

O emprego dos conectivos é um dos assuntos mais recorrentes em provas de concursos públicos na área de Língua Portuguesa, tanto é verdade que, em 28/6/2009, no concurso para Assistente Técnico-Administrativo do Ministério da Integração Nacional, realizado pela UnB/CESPE, das 25 questões de Português, 7 se referem diretamente ao emprego de conectivos – o que corresponde a, exatamente, 28% (vinte e oito por cento) da prova de Língua Portuguesa. Convenhamos que esse dado é relevante.

Ora, como se sabe, os conectivos, do ponto de vista gramatical, são formas gramaticais que estabelecem ligação entre dois termos de uma oração, ou entre orações em um período. Do ponto de vista linguístico, os conectivos, além de garantir a coerência do texto, são primordiais como elementos de coesão textual, porquanto explicitam as relações entre as ideias, tornam o texto mais claro e fácil de ser entendido.

Com efeito, a coesão e a coerência representam dois princípios fundamentais da textualidade, bem como ponto de partida para a compreensão de um texto. Importa lembrar que a coesão se manifesta no nível microtextual e se refere ao modo como os vocábulos se ligam em uma sequência textual. Evidencia-se, portanto, a coesão por meio do emprego de diferentes procedimentos no campo do léxico e no da gramática, entre os quais se inclui o emprego dos conectivos. Interessa-nos, nesse artigo, lembrar que os conectivos – em particular as conjunções coordenativas e subordinativas – são responsáveis pela coesão sequencial em determinado texto, pois que asseguram não a progressão do texto, como também o encadeamento das ideias.

Ligada à compreensão e à possibilidade de interpretação do texto, a coerência textual, por sua vez, manifesta-se no nível macrotextual e diz respeito à relação que se estabelece entre as partes de um texto, criando, assim, uma unidade semântica. Nesse sentido, a coerência pressupõe a não contradição de sentidos entre as partes do texto, assim como a existência de continuidade semântica.



RELAÇÕES SINTÁTICAS: COORDENAÇÃO, SUBORDINAÇÃO E CORRELAÇÃO


A Nomenclatura Gramatical Brasileira – NGB reconhece a existência de dois processos sintáticos: a coordenação e a subordinação. Contudo, alguns estudiosos reconhecem ainda um terceiro tipo de relação sintática, na qual há um vínculo sintático-semântico entre os constituintes do sintagma: a correlação. Trata-se a correlação de um tipo de conexão sintática de uso relativamente frequente, particularmente útil para emprestar mais vigor a um raciocínio. São exemplos de correlação: 1) correlativa aditiva enfática (não só ... mas também / tanto ... quanto / tanto ... como etc.); 2) correlativa alternativa (ou ... ou / seja ... seja / quer ... quer / ora ... ora etc.); 3) correlativa consecutiva (tal ... que / tanto ... que / tamanho ... que / tão ... que); 4) correlativa comparativa (tanto ... quanto / tanto ... como / tal ... qual / tal ... como / mais ... que/ mais ... do que etc.).

Coordenação (ou parataxe), em gramática, refere-se ao processo ou à construção em que unidades linguísticas (palavras, sintagmas, frases, períodos) de função equivalente são ligadas em uma sequência, formando o que se entende por paralelismo ou simetria sintática. Os termos coordenados podem ser justapostos e, na escrita, separados por vírgula (por exemplo: justiça rápida, eficaz) ou ligados por conjunção coordenativa (por exemplo: justiça rápida e eficaz).
Convém assinalar que a coordenação torna o texto mais ágil e mais compreensível para o leitor; contudo, o uso exclusivo de coordenação tende a torná-lo telegráfico, caracterizado pela eliminação de conjunções, muitas das quais indispensáveis para o entendimento da mensagem.

Subordinação (ou hipotaxe), em gramática, consiste em uma relação sintática em que existe relação de dependência. Trata-se, na verdade, de modalidade de construção de períodos na qual uma oração subordinada depende de outra, principal. Ex.: Sei / que haverá o concurso. Enfim, em estruturas subordinadas, estabelecem-se relações de dependência sintática entre os termos e as orações.

Em síntese, na coordenação, as unidades linguísticas são independentes; na subordinação, as estruturas linguísticas são dependentes uma da outra e, na correlação, elas são interdependentes.

QUESTÕES DE CONCURSO
1. (UnB/CESPE – TSE – Analista Judiciário, aplicada em 14/1/2007)
O terreno da ética é o próprio chão onde estão fincadas as bases de uma sociedade. Essa construção é feita todos os dias. Há algo de imaterial em todos os edifícios políticos. Eles não estão aí por obra divina. Precisam ser reforçados permanentemente, por meio de atos significativos em que as pessoas reconheçam o interesse público. É isso que mantém a ordem pública, e não somente, nem, sobretudo, a força policial. Se as pessoas deixam de acreditar em uma ética subjacente ao dia-a-dia em um código de conduta que rege a ação dos políticos, pode-se prever que todo o edifício da sociedade estará ameaçado. O Globo, 30/11/2006, p. 6 (com adaptações).
Acerca das relações lógico-sintáticas textuais, as opções seguintes apresentam propostas de associação, mediante o emprego de conjunção, entre períodos sintáticos do texto acima. Assinale a opção que apresenta proposta de associação incorreta.
PERÍODO CONJUNÇÃO PERÍODO
A primeiro e segundo
B terceiro entretanto quarto
C quarto conquanto quinto
D quinto já que sexto

2. (UnB/CESPE – MRE / Curso de Preparação / Oficial de Chancelaria em 1º/11/2006)
As palavras de ligação são cruciais como elementos de coesão textual. Por explicitar as relações entre as idéias, tornam o texto mais claro e fácil de ser entendido. Em cada um dos itens a seguir, são apresentadas duas frases, intercaladas por uma proposta de ligação (entre parênteses). Sem se preocupar com outras mudanças a não ser a ligação entre as frases, estando elas em um único período e mantendo-se a ordem em que se encontram, julgue apenas se o elemento de coesão proposto é adequado.
a. Chovia torrencialmente. (contudo) O trabalho não pôde ser concluído.
b. O funcionário foi despedido. (e) Abandonou o trabalho sem concluí-lo.
c. A secretária não se intimidou. (apesar de) O chefe era muito severo.
d. O projeto é muito oneroso. (pois) O departamento não pode aceitá-lo.
e. Aquela é uma indústria rica. (por isso) A população do bairro local é pobre.
Comentários:
Texto reescrito com a sugestão da banca: O terreno da ética é o próprio chão onde estão fincadas as bases de uma sociedade. E essa construção é feita todos os dias. Há algo de imaterial em todos os edifícios políticos. Entretanto, eles não estão aí por obra divina. Conquanto precisam ser reforçados permanentemente, por meio de atos significativos em que as pessoas reconheçam o interesse público, já que é isso que mantém a ordem pública, e não somente, nem, sobretudo, a força policial. Se as pessoas deixam de acreditar em uma ética subjacente ao dia-a-dia em um código de conduta que rege a ação dos políticos, pode-se prever que todo o edifício da sociedade estará ameaçado.
Conforme visto, as conjunções coordenativas e subordinativas são elementos de coesão e estabelecem sentido entre as idéias. No texto, a ideia de adição entre o primeiro período e segundo foi expressa pela conjunção e; a idéia de oposição entre o terceiro e o quarto, pela conjunção adversativa entretanto; a idéia de conclusão entre o quarto o quinto foi expressa, equivocadamente, pela conjunção concessiva conquanto e, por fim, a ideia de causa entre o quinto e o sexto, pela conjunção causal já que.
Em vista disso, a única proposta incorreta é a letra C, pois entre o quinto e o sexto períodos há relação lógico-semântica de conclusão (logo, portanto, por isso, por conseguinte), e não de concessão (embora, conquanto, posto que, ainda que).

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